A expressão multiverso não tem a ver com múltiplas
composições em verso, é infeliz por isso, resulta de tradução rasca do inglês multiverse
e respeita à existência de eventuais universos múltiplos, em oposição a um universo
único.
É possível que este universo de que vemos uma parte seja
enorme, imenso, mesmo infinito, mas único: isto é, com as mesmas
características físicas em toda a parte. A ser assim, é bem possível que se
repita e existam regiões sobreponíveis àquela que nos rodeia, incluindo mesmo
outra Via Láctea, com outro Sistema Solar, outra Terra, outro Portugal e até
outro Vítor Gaspar e outro Cavaco Silva, embora as duas últimas hipóteses sejam
redundantes porque um exemplar de cada chega. É a forma mais simples de
multiverso porque não é mais do que a repetição do mesmo.
Mas podemos admitir que, logo a seguir ao Big-Bang, se
tenham gerado mais universos, além do que conhecemos parcialmente. Podem ter
sido dois, três, ene, com características diferentes do nosso. Constituirão bolhas
cósmicas imensas espalhadas no espaço eventualmente infinito. Aqui a trapalhada
começa a ser maior porque, se nem compreendemos muito bem as leis
físicas que nos regem, nem por sombras imaginamos que leis serão as desses
universos. A primeira pergunta que nos suscita a matéria é se há lá vida e, se
há, se é tão inteligente como o Dr. Soares. Digamos que esses universos são gémeos
do nosso, gémeos verdadeiros uns, outros não.
Mas a complicação especulativa pode aumentar. Imaginemos que há vários universos, mesmo infinitos, a ocupar o
mesmo espaço e tempo que o "nosso". Ou seja, estaríamos dentro dum
universo que conhecemos mal e, simultaneamente, dentro de outros universos de
que nem nos apercebemos. Como é isso possível? perguntar-se-á. É fácil no plano
teórico!
Temos falado várias vezes da limitação do conhecimento do
que nos rodeia, condicionados pelo espectro de sensibilidade dos nossos sentidos. O
exemplo—sempre o mesmo—é o do peixe de águas abissais que só contacta com o
mundo através de impulsos eléctricos. Esse ser, podemos dizer, vive num
universo diferente do nosso, ocupando o mesmo espaço e tempo. Por isso, porque
não há imensa gente doutro universo, ou doutros universos, a viver ao nosso
lado, com leis físicas diferentes, sem nos apercebermos disso, nem nós, nem eles? As leis da Física deles versus
nossas podem inclusivamente permitir que nos permeemos mutuamente, duplicando,
triplicando, a lotação do Metro, ou que haja vinte meios de transporte diversos
a operar no mesmo espaço, ou que nem precisem de transporte para se deslocar,
fazendo-o por migração molecular espacial!
A ser assim, qual é o nosso papel? Chegado aqui, não digo
mais nada porque, se chegaram aqui, podem os leitores fazer como Almada faria
ao Dantas: haverá tais munições de manguitos que levarão dois séculos a gastar.
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