Vem no "Diário de Notícias", hoje. O título é
"O Caos Está Instalado" e é uma grande peça: é grande porque são 1.820 palavras,
8.877 caracteres sem espaços, 34 parágrafos e 130 linhas. Não é "Os
Lusíadas", em extensão—embora ande lá perto—mas muito mais que a obra de
Camões em qualidade. O autor é o Pai da democracia de sucesso em que vive a
Pátria, democracia que começou logo a asnear ao primeiro vagido com a entrada
do Dr. Cunhal e do PCP no Governo de Portugal, pela mão do dito Pai. Valeu-nos
um tal Carlucci, eminência parda da CIA e embaixador dos Estados Unidos em
Lisboa, que veio explicar ao Pai da democracia de sucesso como emendar a
burrice que havia feito e descalçar a bota.
A personalidade paternal e patriarcal em apreço é um
militante da falta de senso, da verborreia incongruente, da ideia fixa, da superficialidade e do
facciosismo primário. Mas tem ideias originais e é intelectualmente fecundo
pelo que não se repete. Hoje por exemplo, traz-nos estas ideias novas, para só
dar escassos exemplos: [...] ...este Governo de Passos Coelho, que está há
muito moribundo e completamente paralisado, não teve a dignidade de se demitir.
[...] Os mercados e a troika já
perceberam que com este Governo tudo irá de mal a pior. [...] Não somos a
Grécia, dizia com um orgulho tonto Passos Coelho, o fiel aluno da chanceler
Merkel. [...] Portas não será vice-presidente do Governo, mas tão-só ministro
dos Negócios Estrangeiros, como era. Perante tal humilhação, Passos Coelho e
Portas nem sequer protestam. Porque o que querem é continuar no Governo a todo
o custo, venham as humilhações que vierem...[...] Quem foi além do memorando
foi o Governo Passos Coelho, com uma subserviência total em relação à troika.
Mais ninguém. Por sinal quis sempre ir além da troika, cada vez mais
austeridade, para agradar à sua mestra Angela Merkel, como todo o País sabe...
[...] A austeridade só agravou a situação portuguesa, cometendo-se erros
e mais erros, como reconheceu Vítor Gaspar. E tendo estado, desde então, a
vender a retalho o nosso património, continuando a dever cada vez mais dinheiro
à troika e aos mercados usurários que a comandam. [...] Blá, blá, blá. [...]
E, mais adiante, no molho de brócolos que é a peça em
análise, na alínea "CPLP", acrescenta: [...] A paz que se fez com o reconhecimento do direito das colónias à
autodeterminação e, a seguir a isso, com a descolonização que foi fácil e
rápida. [...]. Rapidíssima, acrescentaria
eu—como Cavaco tem a destruição da agricultura no sapato, qual pedra
incomodativa, procurando justificar-se nas comemorações do 10 de Junho, o Pai
da democracia de sucesso vem agora dizer-nos que a descolonização por ele
conduzida, razão para sentir um calhau na bota, foi fácil e rápida. Para ele foi. Mas nem todos acharão tal—muitos pensam sobre isso o mesmo que pensam
sobre o Pai da democracia de sucesso em que vivemos e sobre o seu papelão na descolonização.
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