Quando lê esta frase é presente, pensa o leitor. Mas
agora, ao ler o que escrevo neste preciso momento, o tempo da leitura da frase
anterior já é passado. O presente é agora, até começar a ler o que segue. Uma
coisa é certa: o passado está fixo, o presente move-se e o futuro não existe—está
em aberto. Isto cria a ideia de que o tempo existe e se move como uma flecha em
direcção à incerteza do futuro; e que não anda para trás. Mas, provavelmente, é
uma ilusão tal ideia.
As leis da Física Newtoniana aplicam-se aos fenómenos
actuais e também aos do passado e do futuro. Com alguma informação, é possível
explicar porque caiu uma ponte há 200 anos e porque outra ponte mal construída
cairá daqui a 100 anos. As leis da Física são intemporais, portanto. Dir-se-á
que o tempo não é uma ilusão porque assistimos aos efeitos da sua passagem:
ficamos com os cabelos brancos, os órgãos envelhecem, as pontes apodrecem e os
governos caem (alguns!...). Mas a relação desses fenómenos com uma grandeza
chamada tempo é construção mental do homem. A natureza não tem nada com isso.
Podíamos dizer que, depois de nascermos, o glaciar X perdeu 300 toneladas de
gelo, em vez de dizer que temos 30 anos, ou que o Benfica vai ser campeão
depois de Pinto da Costa deixar o FêQuêPê, em vez de dizer que será daqui a 100
anos. Na verdade, o tempo—sendo uma ilusão—é útil. Foi inventado pelo homem,
mas foi uma boa ideia. Tal como o dinheiro evita andarmos a
trocar fatos por sacos de batatas ou de cebolas, o tempo que inventámos dispensa-nos de saber as
toneladas de gelo que derretem num qualquer glaciar, ou daqui a quantos anos Pinto
da Costa emigra para o Brasil.
Aliás, chegados a este ponto, é oportuno perguntar: só o
tempo é convencional e ilusório? Na realidade, tudo que chamamos ciência fica
sob suspeita—a nossa capacidade de "ver" o universo é rasca e
desfocada. Porque há-de ser melhor a interpretação que fazemos dos fenómenos
que observamos?
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