No primeiro genuíno Parlamento da História da Europa, a
Assembleia Constituinte e, depois Nacional, da Monarquia Francesa, o direito de
acesso às galerias não tinha a menor restrição. O resultado foi que as galerias
depressa se tornaram num convite à demagogia e num centro de agitação
revolucionária, que intimidou os moderados, calou os raros conservadores que se
pretendiam fazer ouvir e produziu heróis pouco edificantes como Mirabeau,
Brissot, Danton e Robespierre. [...]
[...] Em 2014*, a esquerda aparentemente perdeu a “rua”, que
não se mexe e não a sustenta. Os media não a estimam. E os comícios morreram.
Sobraram as galerias de São Bento, onde meia dúzia de manifestações conseguiram
chegar pela televisão ao português comum.
Para acabar com este estratagema, Assunção Esteves encomendou
um estudo comparativo sobre as regras de acesso às galerias nos parlamentos da
Europa. Previsivelmente, a esmagadora maioria desses parlamentos tinham regras mais
severas do que o nosso. Isto com certeza consolou a direita, que não abriu o
bico, mas provocou à esquerda um novo ataque de indignação. O dr. José
Junqueiro, por exemplo, nem se esqueceu de lembrar o velho sofisma de que São
Bento “é do povo”. Ora São Bento não é obviamente do “povo”, e menos do “povo” de
Lisboa. São Bento é dos “representantes da nação”, onde o “povo” só deve entrar
com a condição absoluta de não se agitar e não falar. Nenhuma espécie de “transparência”
justifica que as galerias se transformem numa força agente e movente na política
portuguesa. Façam o barulho que quiserem, mas na rua.
* Em Portugal
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Vasco Pulido Valente in "Público"
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