sábado, 15 de fevereiro de 2014

O PERIGO DA OBEDIÊNCIA

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Em 1961, três meses depois de iniciado o julgamento do criminoso de guerra nazi Adolf Eichmann, em Jerusalém, o investigador Stanley Milgram, da Universidade de Yale, realizou uma experiência que viria a ficar famosa. Estudava Milgram o comportamento de pessoas sujeitas à situação de "cumprir ordens", como alegavam Eichmann e outros criminosos nazis serem os seus casos durante o regime hitleriano. Quarenta anos passados, mais de duas dezenas de romances, filmes, canções pop e peças de teatro haviam  surgido sobre a experiência de Milgram. A última estreou recentemente  em Nova Iorque, com o título "Please Continue".
A experiência de Milgram era simples. Envolvia-o a ele, colaboradores enganados por ele que representavam os criminosos nazis, e um actor cuja condição os colaboradores não conheciam. Na imagem, Milgram é a figura E, um colaborador enganado a S e o actor a A. Só Milgram sabia completamente o que estava a decorrer.
O colaborador S fazia um interrogatório à figura A (actor)—que não via, pois os compartimentos eram separados (a natureza das perguntas não interessa agora)—e se este não respondia, dava-lhe um electrochoque a que ele simulava reagir com dor e desconforto, embora não recebesse choque nenhum. A cada pergunta mal respondida seguia-se um choque com intensidade crescente e maior reacção do actor que chegava a bater na parede, pedindo para acabar com aquele drama. O colaborador hesitava, mas Milgram insistia com uma conversa pré-fabricada e estandardizada até o colaborador se recusar a continuar.
O resultados eram surpreendentes pelo nível de tortura a que os colaboradores—gente normal—chegavam, "empurrados" por Milgram.
Naturalmente,  do ponto de vista ético a experiência é mais que discutível e Milgram ficou muito mal na fotografia. Publicou depois um livro sobre o ensaio, intitulado "Os Perigos da Obediência" onde, a páginas tantas, diz: "Pessoas comuns a exercer apenas o seu trabalho, sem nenhuma espécie de hostilidade, podem tornar-se agentes de um processo destrutivo terrível. Mesmo quando os efeitos destrutivos desse trabalho se tornam claros e se lhes pede para praticarem acções incompatíveis com padrões mínimos de moral, poucas têm capacidade para resistir à autoridade."
É tudo perturbante: o ensaio, os efeitos que produziu nos colaboradores que participaram, rebabá. Mas o mais perturbante são as conclusões de Milgram—altamente incorrectas politicamente, mas um aviso. Em minha opinião, o trabalho de Milgram não serve de justificação para nada já acontecido; mas é um bom aviso para o futuro—profiláctico!
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(As imagens foram indecentemente surripiadas da revista "TheScientist")
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