[...] A intervenção
que emocionou a noite coube ao reitor da Universidade de Lisboa, um tal Sampaio
da Nóvoa. O dr. Nóvoa parece carenciado em matéria de ligações à realidade, mas
pródigo em lirismo. Sempre sob intensos aplausos, explicou que "Agora é
preciso construir caminhos". E que "Um encontro [das esquerdas] pode
decidir uma vida". E que "Não podemos perder a Pátria nem por
silêncio nem por renúncia". E que "Abril abriu-nos à vida". E
que "Sentimos este desespero de quem está a morrer na praia às mãos de
visões curtas, estreitas e desumanas". E que "Podemos falar, podemos
conversar e agir em conjunto". E que "É preciso renovar a
política".
Convém notar que a
reitoria da UL continua a primar pela excelência intelectual: a verborreia do
dr. Nóvoa mantém os níveis estabelecidos por José Barata Moura, autor de Joana
come a papa. Convém notar ainda que a única esquerda assumida capaz de chegar
ao poder esquivou-se, horrorizada, à demonstração de arrogância antidemocrática
levada a cabo pelos diletantes da Aula Magna: até António José Seguro percebe
que, a existir um dia, a sua legitimação nunca advirá da vontade de uma clique
privilegiada e caduca que brinca, felizmente sem consequências, a decidir quem
manda à revelia dos cidadãos. Não sei se António José Seguro percebe que, pelas
comparações que suscitam, brincadeiras assim constituem uma rara justificação
para a sobrevivência de um Governo em frangalhos. [...]
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Alberto Gonçalves (para ler amanhã no "Diário de Notícias")
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(O sublinhado é meu)
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