quarta-feira, 5 de junho de 2013

O SIGNIFICADO OCULTO DAS PALAVRAS

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Imagine-se a ouvir ou a ler que ontem um carro, em plena montanha, se dirigia para Norte—sem mais explicações. A pergunta é: ia o carro a subir a montanha, ou a descer a montanha? É quase certo que o leitor pensou no carro a subir e pensaria nele a descer, se fosse para Sul.
Não acredita? A experiência foi feita e quase nunca falha; isto é, Norte é para cima e Sul é para baixo. É estúpido, mas é assim. Um australiano chamado Stuart McArthur um dia perdeu a paciência  e propôs que os mapas fossem feitos ao contrário, com o hemisfério Sul em cima, e consequentemente a Austrália também, e o hemisfério Norte em baixo, com a a Europa e a América do Norte em baixo.
Estúpido dir-se-á! Mas porquê? Porque os europeus e os americanos cairiam todos de cabeça em direcção ao Norte? Posso sossegar os leitores porque já vivi dois anos no hemisfério Sul e nunca caí. É um viés, como aquela coisa de dizer sem pensar que um quilo da chumbo pesa mais que um quilo de algodão. Os mapas podiam perfeitamente ser feitos assim e, à parte a trapalhada que era quebrar o costume, era tudo igual.
As palavras têm significados que lhes estão agarrados e nem sei se isso foi a razão da sua génese. Por exemplo, dois "carros colidiram" não desperta a mesma ideia que "dois carros esbarraram-se"—no primeiro caso o choque não é muito forte e foi a baixa velocidade, e no segundo o choque é mais forte e a velocidade maior, o que é uma burrice.
O poeta alemão Christian Morgenstern disse um dia que todas as gaivotas parecem chamar-se Ema. É subjectiva a afirmação, mas consubstancia a teoria de que as palavras têm significados inesperados, não previstos nos dicionários, tal como os nomes—uma Ana Luís, ou Margarida José que não conhecemos, não são imaginadas como uma Dulce Maria, ou Cristina Isabel.
Tudo é convencional e relativo, ou seja, o costume é rei de tudo, segundo o Poeta Píndaro que, não sei se já disse, não tive o prazer de conhecer.

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