Há dias, Eduard Snowden,
um americano com ar infeliz, disse ao mundo que a "National Security Agency",
onde trabalhava, tem um centro que
regista tudo, desde conversas telefónicas até correio electrónico, peças
publicadas no Facebook e equivalentes, blá, blá, blá, e que ele até podia ouvir
os telefonemas da sua mulher para outras pessoas, saber quanto dinheiro tinha ela
levantado no banco, ou as páginas da Internet ou do Facebook visitadas e por aí
fora. O mesmo para si, para mim, para elas, para eles, para nós, para vós, etc.
No ano de 1844, um italiano chamado Giuseppe Mazzini, que
conspirava para fazer a unificação dos reinos de Itália sob a forma duma república
e havia sido condenado à morte e fugido para Londres, suspeitou que a sua
correspondência era violada pelo Ministério do Interior britânico. Com técnicas
engenhosas, pelo envio de cartas para si próprio, tirou a prova dos nove
ao facto.
Através de um amigo deputado na Câmara dos Comuns,
conseguiu que a coisa fosse levada ao Parlamento e o ministro disse que não
respondia a perguntas sobre matéria secreta porque... era secreta. Seguiram-se
discussões, comissões, orações, frustrações, desilusões e relatórios—claro!!! Durante
o debate parlamentar, alguns deputados propuseram que a leitura das cartas
fosse considerada legal, desde que o destinatário fosse disso informado. A tal
respeito, Disraeli declarou que não se importava nada que abrissem as cartas dele,
desde que se encarregassem de lhes responder.
Curiosamente, ao ler a notícia do centro da NSA, pensei
também que me incomodava pouco o facto. Para ser sincero, senti até um nadinha
de vaidade, ao pensar que uma instituição tão ilustre como a CIA está interessada
naquilo que digo, escrevo e publico. E, já agora, aproveito a oportunidade—por isso falo na matéria—para
pedir aos homens da Intelligence que me enviem opiniões e sugestões para
"O Dolicocéfalo" que, estou certo, ocupa lugar de destaque nos seus arquivos. Fico, desde já, grato pela atenção que queiram dispensar-me.
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