[...] ... o BE prosperou no confronto com duas ou três
tradições. Removidas estas, aliás sem excessiva resistência, o confronto do BE passou
a ser consigo mesmo, um espectáculo divertido e decerto breve. Não tarda, a
realidade irá instruí-lo da sua imensa redundância.
É que para o resto, leia-se para enterrar o
capitalismo, excluir Portugal da Europa e da NATO, venerar ditaduras e conduzir
os trabalhadores à vitória ou à bancarrota final de acordo com o que suceder
primeiro, já temos extrema-esquerda suficiente: atende pelo nome de PCP, e
fundou-se há uns aninhos, ao contrário dos que hoje se afundam. [...]
[...] É curioso que nenhum das dezenas de regimes
torcionários em vigor sofre uma fracção dos boicotes, ameaçados ou consumados,
que Israel, uma nação civilizada e livre, sofre. No máximo, os torcionários
suscitam indiferença. Se, conforme é habitual, professarem uma ligeira, e
tradicional, aversão aos judeus, os torcionários merecem simpatia.[...]
[...] O que aqui me traz é uma lacuna inexplicável. Já vi
abundantes e mirabolantes explicações para os rituais académicos. Porém, ainda
não vi ninguém que os explicasse mediante a crise económica. Ora, como é do
conhecimento público, a crise, a austeridade e a troika e a Alemanha estão na origem
de todas as maleitas sociais do nosso tempo, incluindo os assaltos a postos de
gasolina, a violência doméstica, a pobreza material, a pobreza de espírito, o
furto de fio de cobre, a embriaguez contumaz, o suicídio, a toxicodependência,
a diabetes e a péssima carreira do Olhanense no campeonato de futebol. Não há,
pois, nenhum motivo válido para que a crise também não explique as
"praxes". A fim de suprir tamanha carência, sugiro um esboço de
argumento: atormentados pela falta de saídas profissionais, pela ameaça da
emigração e, em suma, por uma sociedade que os rejeita, os jovens
universitários procuram sublimar os medos vestindo disfarces de Zorro e
humilhando os infelizes que se põem a jeito. Cabe agora a psicólogos e
sociólogos de craveira superior desenvolverem a tese. Estejam à vontade.
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Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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