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Guy Deutscher e
sua mulher eram dois linguistas bizarros: faziam experiências com a sua filha
Alma, à medida que esta crescia e aprendia. Ensinaram-lhe as cores do arco-íris
da maneira clássica—apontavam uma maçã e diziam-lhe que era vermelha, uma
banana amarela, rebabá. Mas havia coisas que não ensinavam, porque não era
possível ensinar a cor de tudo no mundo. E essa parte não ensinada era a mais
importante para os pais porque permitia ver se a filha estabelecia a comparação
correcta com os objectos cuja cor tinha aprendido.
Um dia, Deutscher
apontou para o céu e perguntou-lhe de que cor era. Alma atrapalhou-se—o céu não
lhe parecia uma coisa igual às outras e respondeu que não tinha cor. Tempo
depois, enquanto passeavam, Deutscher repetiu a pergunta. Alma percebeu que não
tinha acertado da última vez e respondeu o que lhe pareceu melhor, dizendo que
era branco, claramente um tiro na escuridão—Alma continuava a achar que o céu
não tinha cor. À terceira vez que a pergunta foi feita, Alma respondeu que era
azul. O pai ficou satisfeito, mas a pensar naquilo. Na verdade, a cor do céu não
é assim tão líquida: varia, ou seja, tem dias, coisa constatada há muito por um
coca-bichinhos chamado Horace-Bénédict de Saussure, que já tinha inventado um higrómetro feito com crina de cavalo, um anemómetro e outras coisas mais e vivia obcecado com a
medição da natureza. Uma delas era exactamente a cor do céu que, como referido,
tem dias, uns quase branco, outros azul e outros mais escuro que a situação portuguesa
depois da saída limpa.
Então, em 1787, organizou uma viagem ao Monte Branco,
acompanhado de 18 serventuários, incluindo guias, e registou 39 tons de azul.
Fez uma cangalhada em forma de anel (Figura) com mais de 50 tons numerados, de forma a
pô-la em frente dos olhos, espreitar pelo buraco, comparar o céu com esses tons e atribuir-lhe
um valor numérico.
Saussure foi o pioneiro da meteorologia quantitativa—depois
da avaliação do grau de humidade do ar e da velocidade do vento, quantificava agora a cor do céu que havia
atrapalhado a jovem Alma. Ficou, contudo, sem explicação para as variações dessa
cor. Admitiu que fosse provocada pela quantidade de vapor de água, mas estava
errado.
Só bastante depois, Lord Rayleigh explicaria isso pela
chamada deflexão de Rayleigh, no fundo, o desvio da radiação electromagnética
solar pelas moléculas e átomos da atmosfera.
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