sexta-feira, 16 de maio de 2014

O 'AZULÓMETRO' DE SAUSSURE

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Guy Deutscher e sua mulher eram dois linguistas bizarros: faziam experiências com a sua filha Alma, à medida que esta crescia e aprendia. Ensinaram-lhe as cores do arco-íris da maneira clássica—apontavam uma maçã e diziam-lhe que era vermelha, uma banana amarela, rebabá. Mas havia coisas que não ensinavam, porque não era possível ensinar a cor de tudo no mundo. E essa parte não ensinada era a mais importante para os pais porque permitia ver se a filha estabelecia a comparação correcta com os objectos cuja cor tinha aprendido.
Um dia, Deutscher apontou para o céu e perguntou-lhe de que cor era. Alma atrapalhou-se—o céu não lhe parecia uma coisa igual às outras e respondeu que não tinha cor. Tempo depois, enquanto passeavam, Deutscher repetiu a pergunta. Alma percebeu que não tinha acertado da última vez e respondeu o que lhe pareceu melhor, dizendo que era branco, claramente um tiro na escuridão—Alma continuava a achar que o céu não tinha cor. À terceira vez que a pergunta foi feita, Alma respondeu que era azul. O pai ficou satisfeito, mas a pensar naquilo. Na verdade, a cor do céu não é assim tão líquida: varia, ou seja, tem dias, coisa constatada há muito por um coca-bichinhos chamado Horace-Bénédict de Saussure, que já tinha inventado um higrómetro feito com crina de cavalo, um anemómetro e outras coisas mais e vivia obcecado com a medição da natureza. Uma delas era exactamente a cor do céu que, como referido, tem dias, uns quase branco, outros azul e outros mais escuro que a situação portuguesa depois da saída limpa.
Então, em 1787, organizou uma viagem ao Monte Branco, acompanhado de 18 serventuários, incluindo guias, e registou 39 tons de azul. Fez uma cangalhada em forma de anel (Figura) com mais de 50 tons numerados, de forma a pô-la em frente dos olhos, espreitar pelo buraco,  comparar o céu com esses tons e atribuir-lhe um valor numérico.
Saussure foi o pioneiro da meteorologia quantitativa—depois da avaliação do grau de humidade do ar e da velocidade do vento, quantificava agora a cor do céu que havia atrapalhado a jovem Alma. Ficou, contudo, sem explicação para as variações dessa cor. Admitiu que fosse provocada pela quantidade de vapor de água, mas estava errado.
Só bastante depois, Lord Rayleigh explicaria isso pela chamada deflexão de Rayleigh, no fundo, o desvio da radiação electromagnética solar pelas moléculas e átomos da atmosfera.
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